terça-feira, 10 de janeiro de 2012

Educação sem homofobia

O que é Educação sem Homofobia?

O Projeto Educação sem Homofobia é fruto da parceira entre o Núcleo de Direitos Humanos e Cidadania GLBT (gays, lésbicas, bissexuais, travestis e transexuais) da Universidade Federal de Minas Gerais (Nuh/UFMG), as secretarias municipais de educação de Belo Horizonte e Contagem, o Centro de Referência GLBT de BH e grupos do movimento social GLBT da região metropolitana; contando com financiamento da Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade do Ministério da Educação (Secad/MEC). Este projeto insere-se, dentro das diretrizes do Programa Brasil sem Homofobia, no âmbito da Formação de Profissionais da Educação para a Promoção da Cultura de Reconhecimento da Diversidade Sexual e da Igualdade de Gênero.
Buscamos questionar práticas, posturas, princípios e valores presentes no ambiente escolar que reproduzem e legitimam as hierarquias sexuais, naturalizando a norma heterossexual e invisibilizando/inviabilizando outras possibilidades de manifestação das sexualidades. Nossa proposta procura conjugar formação teórica e conceitual, a realidade escolar trazida pelos/as participantes do curso e as vivências de integrantes dos movimentos sociais GLBT. Tematizamos os direitos sexuais como direitos humanos, evidenciando como questões vivenciadas primordialmente no âmbito privado passaram a fazer parte da vida política da grande maioria das sociedades ocidentais. Abordamos as sexualidades como construções histórica e socialmente demarcadas, com múltiplas possibilidades de expressão, buscando visibilizar aquelas inferiorizadas e negadas pela heteronormatividade. Objetivamos ainda a instrumentalização dos/as participantes para a análise institucional, capacitando-os/as para a formulação/aplicação de ações visando o reconhecimento da diversidade sexual, o combate à homofobia e ao sexismo e a promoção da cidadania e da cultura de paz nos espaços de convivência escolar.

http://mensagens.culturamix.com/blog/wp-content/gallery/citacoes-sobre-educacao/citacoes-sobre-educacao12.jpg

FUNDAMENTOS
Nota-se que as questões relativas à sexualidade humana e seu amplo gradiente de expressões que até então eram veladas ou tratadas como de menor valor fazem-se sentir no interior da escola. Há crítica aos que vêem nos conteúdos das vivências sexuais apenas o alvo de controle moral ao considerar que o objetivo mais nobre da escola é assegurar a transmissão do conhecimento. A escola agora busca dar visibilidade a essas vivências impelidas pelos novos tempos em que se amplia o reconhecimento de sua função social no trato dos novos contornos da sexualidade humana. A emersão da gravidez na adolescência ou a demanda de combate às DSTs/AIDS, por exemplo, são apenas a ponto de um grande iceberg que (re)vela a condição juvenil e a importância da sexualidade na afirmação desses protagonistas.
Deve-se, então, reconhecer que é necessário avançar no contexto já consolidado de aceitação da educação sexual nas escolas. Considerar não apenas a ponta do iceberg de tratar a educação sexual como ação preventiva ainda fortemente marcada pelo biologicismo quando faz do risco da gravidez precoce e da prevenção à contaminação os temas mobilizadores de sua organização. São as relações de gênero em sua constituição de matrizes identitárias psico-sociais atribuídas ao bimorfismo acima referido que está na base desse grande bloco de gelo.

http://www.fafich.ufmg.br/educacaosemhomofobia/noticiasantigas.php?id=29&&mes=10
Dados Interessantes
Segundo pesquisa realizada pela UNESCO denominada “Juventudes e Escola” (CASTRO, ABRAMOVAY e SILVA, 2004), são as questões de gênero as que perpassam e mobilizam diferentes distribuições estatísticas:
• Alunas tendem a considerar a virgindade mais importante para as mulheres do que para os homens e em todas as capitais pesquisadas são os alunos que tem relações sexuais mais precocemente, enquanto elas adiam um pouco mais esse início;
• Para as meninas a gravidez é uma felicidade e para os meninos é uma forma de prejuízo que vai ter peso para o resto da vida;
• As razões para não se pedir ao parceiro que use camisinha diferem entre meninos e meninas: para elas as razões envolvem confiança e fidelidade e para eles as razões estão relacionadas ao momento, ao prazer e a fato de se achar não vulnerável;
• Para alunas bater em homossexuais é classificado como a terceira violência mais grave enquanto que para os alunos ocupa a sexta violência em uma lista em que seis opções foram dadas como opções;
• Os homens têm mais preconceito que as mulheres sobre o convívio com homossexuais na escola. Sendo que 25% dos alunos nas capitais pesquisadas não gostariam de ter um colega de classe que fosse homossexual.
Em outra pesquisa denominada “Gravidez na adolescência: estudo multicêntrico sobre jovens, sexualidade e reprodução no Brasil” (HEILBORN, 2006), um dado relevante é de que:
• Homens são menos tolerantes que as mulheres a comportamento homossexual;
• A tolerância a comportamento homossexual é diretamente proporcional à escolaridade;
• Homens são mais tolerantes com lésbicas que as mulheres, enquanto as mulheres são mais tolerantes do que os homens com gays (homossexualismo masculino).
Já segundo pesquisa realizada durante a 8ª Parada do Orgulho GLBT em Belo Horizonte (Prado, Machado e Rodrigues, 2005):
• 44,7 % dos entrevistados homossexuais já disseram ter sofrido alguma forma de violência na escola, ocupando o terceiro lugar após a família e lugares públicos de lazer.
Esses dados indicam que a heteronormatividade é compulsória na sociedade e que, entre alunos e alunas, reproduzem-se os preconceitos de gênero que articulam as assimetrias entre homens e mulheres e que lastreiam o sexismo, o machismo e a misogínia.
Deve, portanto, a escola ser preparada para enfrentar situações de aviltamento da condição humana no que tange as possibilidades oferecidas em se ser homem e mulher, pois são as dinâmicas sexistas e seus estereótipos que dificultam a permanência de alunos e alunas na escola, afetam as expectativas quanto ao sucesso e ao rendimento escolar, incidem no padrão das relações sociais entre estudantes e deste com os profissionais da educação.
Em Belo Horizonte e Contagem, os dois maiores municípios da região metropolitana, já há alguns anos o trabalho sistemático em educação sexual vem acontecendo em suas redes. São nessas ações que as discussões sobre gênero acontecem junto a outros temas relevantes no trato com a sexualidade, entretanto, há uma avaliação de que esse conjunto de ações é ainda insuficiente frente aos desafios colocados e já assumidos por outros setores das políticas públicas a partir de demanda do movimento social como, por exemplo, a criação de centros de referência em direitos humanos e cidadania GLBT.
Considerando estas questões é que ensejamos no âmbito das atividades de capacitação e intervenção junto a gestores das políticas públicas, o desenvolvimento de uma pesquisa que compreenda a dinâmica do preconceito homofóbico, a capacidade dos gestores em identificar este tipo de violência e suas formas de enfrentamento que podem gerar processos e práticas interventivas no âmbito da educação e das políticas sociais.



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